Objetivo é detectar irregularidades e realizar higienização da rede.
Atualizado em: 11/12/2023
O compartilhamento de postes nas áreas urbanas é um desafio para distribuidoras de energia, operadoras de telecomunicações e prefeituras. Para buscar soluções e promover a ocupação de forma segura e ordenada, a Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais está realizando um “censo” dos 2,3 milhões de postes instalados nos 774 municípios da sua área de concessão. O inventário, que teve início em outubro de 2022, está 72% concluído e deve terminar até junho do próximo ano.
Trata-se do maior levantamento do compartilhamento de infraestrutura e iluminação pública em execução no Brasil. A distribuidora está investindo R$ 20 milhões no projeto, que envolve o trabalho de documentação fotográfica em campo e identificação de todo o aparato instalado. Os resultados servem de base para futuras ações da empresa, como a notificação dos responsáveis para regularização e a retirada de cabos clandestinos. A ideia é que a “higienização da rede” seja feita de forma legal e responsável, sem prejudicar eventualmente algum serviço essencial.
“Segurança e respeito à vida são valores inegociáveis e é nosso papel disseminar as informações e certificar o uso seguro das nossas redes”, disse a gerente de Receitas Acessórias da Cemig, Juliana Cardoso Amaral, durante o 1° Workshop de Segurança – Compartilhamento de Infraestrutura, realizado pela distribuidora no dia 28 de novembro.
O Brasil tem atualmente, segundo estimativa da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações, em torno de 47 milhões de postes. Destes, cerca de 10 milhões estariam em situação crítica. Abarrotados de fios e outros cabos, energizados ou não e uma parte deles inclusive clandestinos, presos precariamente e cenário de rompimentos constantes, mais do que poluição visual eles representam risco permanente para pedestres e ocupantes de veículos. “Essa situação incomoda o cidadão e incomoda a Cemig também. Nos casos mais emergenciais já atuamos diretamente, assumindo esse custo para reduzir os riscos para a população”, disse Juliana.
Muitas vezes, os cadastros fornecidos pelas empresas de telecomunicações e prefeituras não correspondem à realidade, dificultando as manutenções da distribuidora. “Além dos cabos de telecomunicações, o censo também inclui o mapeamento de ativos de iluminação pública, ligações clandestinas de energia e cargas como semáforos, radares e câmeras”, explicou Cleiton Ferreira, coordenador do projeto.
As equipes do Grupo JVM, empresa especializada em cadastramento de ativos no setor elétrico, de Feira de Santana, SP, ganhadora da licitação pública, estão realizando o cadastro georreferenciado de cada poste com câmeras de alta resolução, que enviam as imagens para o sistema em nuvem. As informações passam por um processo de auditoria, são validadas e automaticamente integram a base de dados da Cemig.
As operadoras e provedores cadastrados foram convidados a indicar previamente um técnico para acompanhar o trabalho do censo. Também estão sendo notificados com relação aos resultados do levantamento, como irregularidades e divergências no número de pontos alugados. O prazo para manifestação da contratante é de 15 dias via carta ou e-mail. “Sugerimos que as empresas de telecomunicações façam a devida regularização da rede, pois elas também precisam zelar pelo ativo que é de sua responsabilidade. É fundamental ter a colaboração de todos”, disse Juliana. Segundo ela, com os dados coletados a distribuidora obtém maior visibilidade das suas redes e passa a atuar de forma mais proativa junto às parceiras. A Cemig também está fazendo reforçando a equipe de campo para que a partir do próximo ano possa executar as fiscalizações de uma forma mais efetiva.
As ações fazem parte do plano de investimentos da Cemig, o maior da sua história, de R$ 42 bilhões (2023-2027), superando os R$ 22,5 bilhões anunciados em 2021 com prazo de execução até 2025.
Caos nas cidades
“A expansão do mercado de telecom nos últimos anos trouxe novas problemáticas de infraestrutura no setor. O espaço nos postes que hoje os provedores disputam para instalação de cabos não é mais suficiente para atender às demandas. E as redes subterrâneas também estão congestionadas”, disse Marcius Vitale, CEO da Vitale Consultoria, durante sua palestra Infraestrutura Crítica de Telecomunicações no Workshop da Cemig. Ele lembrou que, além dos problemas hoje enfrentados, a implantação de novas tecnologias, como o 5G, deverá trazer desafios adicionais. “É preciso muito treinamento, muita conscientização para o pessoal de telecom”, afirmou Vitale, que participa do Grupo de Trabalho de 5G do Confea – Conselho Federal de Engenharia, criado para discutir a implantação dos equipamentos de 5G nos postes e mobiliários urbanos. Vitale é também coordenador do Workshop de Compartilhamento de Postes, um dos eventos que compõem o Netcom – Feira e Congresso de Redes e Telecom, em São Paulo [a próxima edição do Netcom será de 5 a 7 de agosto de 2024].
Vandalismo
Um outro problema comum nas redes aéreas, e que se intensificou após a pandemia, é o furto de cabos. Em Minas Gerais, cerca de 90% das ocorrências são realizadas por moradores em situação de rua em busca do cobre para venda no mercado paralelo. Durante a ação criminosa é comum ocorrer o corte também dos cabos ópticos, provocando a parada de serviços de telecomunicações e contribuindo para a poluição visual nos postes, uma vez que os cabos cortados ficam pendurados ou soltos.
Devido ao crescimento das ocorrências, a regional de Minas Gerais da operadora Claro, que tem cerca de 500 mil postes alugados junto à Cemig, decidiu retirar os cabos metálicos ADE das redes aéreas e subterrâneas que, devido à alta concentração de cobre, também são mais atrativos para o vandalismo. Muitos cabos, inclusive, já estavam desativados, com a evolução da fibra nos municípios. O programa teve início em maio de 2023 no interior de Minas Gerais, em Juiz de Fora e Varginha, e seguiu por 13 cidades ao longo do ano. A ideia é expandir para outros municípios.
Uma outra novidade foi o modelo de negócio do trabalho: a empresa contratada pela Claro para limpeza da rede foi remunerada pelo próprio material retirado. “Procuramos um parceiro seguindo as regras de compliance da operadora e questões legais, com a obrigação de prestar contas quanto à destinação do material, com a certeza de que não irá para o mercado negro ou receptador que acaba fomentando o vandalismo dessas instalações”, disse Mauricio Fernandes, gerente regional administrativo e segurança patrimonial da Claro de Minas Gerais. Além de tornar o poste menos atrativo para furto, a retirada dos cabos de cobre reduz o esforço mecânico, com a redução do peso, melhora o impacto visual das redes aéreas e aumenta a segurança.
Os vídeos do Workshop estão disponíveis no canal do YouTube da Cemig: https://www.youtube.com/watch?v=jQmZSg0M2Aw