Conselho Tecnológico do SEESP

Fundado em 16 de outubro de 1987, o Conselho Tecnológico (CT) do SEESP tem história marcada pela excelência na valorização profissional, discussão e apresentação de propostas fundamentais aos desenvolvimentos regional e nacional.
Soraya Misleh
Visiona Tecnologia Espacial realiza palestra sobre necessidade de dar continuidade ao Programa Espacial Brasileiro durante reunião do Conselho Tecnológico do SEESP em junho de 2017. Foto: Beatriz Arruda/Acervo SEESPSeu principal trabalho, como explica o coordenador do CT, José Roberto Cardoso, é debater as “questões mais delicadas da engenharia no momento para formar a opinião do sindicato sobre elas”. Cardoso completa: “Outra tarefa é a prospecção através de seus comitês assessores de problemas em áreas estratégicas”.
Os subgrupos são transporte e mobilidade, energia, saneamento, educação, comunicação e telecomunicações, inovação e industrialização, além de navegação. “Esses comitês convidam profissionais para palestras e a partir dessas exposições, formamos opinião e encaminhamos à Presidência do SEESP para nortear as ações e proposições apresentadas pelo sindicato. As discussões geram muitas vezes políticas públicas.”
De acordo com ele, cerca de 40 profissionais integram o Comitê Gestor do CT, entre os quais os membros da diretoria executiva do SEESP. Ao todo, o conselho congrega, afirma Cardoso, que é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), em torno de 250 profissionais da área de engenharia, “formadores de opinião e com competência diferenciada”. O Comitê Gestor se reúne uma vez por mês. Nesses encontros os coordenadores dos subgrupos apresentam os trabalhos em suas áreas. “Isso tem auxiliado as iniciativas da entidade.”
Cresce Brasil
Murilo Pinheiro (à esquerda) e José Roberto Cardoso: conexão dos trabalhos do grupo com “Cresce Brasil”. Fotos: Acervo SEESP
“Reunindo profissionais de larga experiência e elevado conhecimento em diversas áreas, o Conselho Tecnológico do SEESP é fundamental para embasar as contribuições apresentadas pelo sindicato em prol da profissão, dos engenheiros e da sociedade”, destaca Murilo Pinheiro, presidente da entidade. Exemplo mencionado por Cardoso é a discussão que teve lugar na sede do SEESP, na Capital, em fevereiro último, sobre soluções às enchentes no Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo.
Murilo enfatiza ainda a conexão desse trabalho com o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) com adesão do sindicato paulista que desde 2006 elabora propostas factíveis voltadas ao desenvolvimento nacional sustentável com inclusão social. Cardoso reforça a importância do Conselho Tecnológico no embasamento de contribuições que integram o “Cresce Brasil”. Entre elas, a necessidade de formar mais e melhores engenheiros, a demanda por reindustrialização do País, cidades inteligentes e propostas para melhoria da mobilidade urbana.
Papel estratégico
Coordenador do Comitê Assessor de Transportes e Mobilidade do CT do SEESP, Jurandir Fernandes ratifica o papel estratégico do Conselho Tecnológico ao acompanhar e analisar o desenvolvimento tecnológico nacional: “Atua como um farol, monitorando tendências globais e emergentes – como inteligência artificial, energias renováveis, digitalização da indústria, cidades inteligentes e novos materiais –, para garantir que a engenharia brasileira seja protagonista na adoção de inovações e jamais deixe de atender às reais necessidades da população ao contribuir para o desenvolvimento econômico do País.”
João Carlos Gonçalves Bibbo e Jurandir Fernandes (à direita): discussões técnicas para embasar ação e proposições do sindicato.
O Comitê Assessor coordenado por Fernandes tem realizado, ao longo dos anos, uma série de iniciativas. Temas como soluções para o transporte público e a mobilidade urbana nas regiões metropolitanas, o papel da parcerias público-privadas no segmento, receitas acessórias à mobilidade, bilhetagem, tendências mundiais na área e inteligência tecnológica a serviço do transporte, entre outros, compuseram debates e resultaram em contribuições do SEESP no segmento.
No primeiro semestre deste ano, esse subgrupo trouxe a discussão técnica sobre os riscos com mototáxi. Assim, concluiu que esse serviço “não é uma solução adequada para os desafios de mobilidade de São Paulo”, recomendando que “gestores públicos, operadores de transporte e a sociedade civil devem trabalhar juntos para promover alternativas mais seguras, eficientes e sustentáveis, garantindo uma mobilidade urbana que beneficie a todos”.
Já João Carlos Gonçalves Bibbo, vice-presidente do SEESP e coordenador do Comitê Assessor de Saneamento, revela a luta em defesa do saneamento público como central junto ao CT e, nesse sentido, a longa batalha travada contra a privatização da Sabesp, concluída lamentavelmente em julho de 2024 pelo Governo do Estado. Além disso, a busca por aplicação das evoluções tecnológicas na área.
Desafios contemporâneos
Marcelo Knörich Zuffo, diretor do Centro de Inovação da USP (InovaUSP) e coordenador do Comitê Assessor de Inovação e Industrialização, frisa a intenção desse outro subgrupo de “fomentar uma agenda estratégica que conecta a engenharia nacional aos desafios contemporâneos da reindustrialização sustentável, das tecnologias emergentes e da soberania científica e tecnológica do Brasil”.
Marcelo Knörich Zuffo (à esquerda) e Marcius Vitale: desafios contemporâneos em foco.
Fotos (na ordem): Cecilia Bastos/Poli-USP Notícias e Acervo pessoal
Entre os desafios principais, destaca os estudos e proposições para políticas públicas voltadas à inovação industrial, a construção de pontes entre centros de pesquisa e o setor produtivo e o estímulo à formação de engenheiros para áreas críticas como semicondutores, manufatura avançada, inteligência artificial e transição energética.
O consultor Marcius Vitale, Coordenador do Comitê Assessor de Comunicação e Telecomunicações, por sua vez, ressalta o trabalho do conselho na busca por melhorar a infraestrutura no Brasil, em prol da sociedade. “É a disseminação da cultura boa da engenharia”, vaticina.
O subgrupo que coordena, nessa direção, atua para apresentar contribuições a questões críticas nas cidades brasileiras, como o emaranhado de cabos e fios nos postes, que se agravou após as desestatizações no setor de telecomunicações. “Antes havia 28 operadoras e a Embratel, havia organização e procedimento. Com as privatizações, sabe quantos provedores de internet existem? Mais de 20 mil. Além dos grandes, essas empresas estão lançando cabos nas redes.” Ele questiona: “Como tratar de cidades inteligentes com uma infraestrutura burra?”
A preocupação do subgrupo, ainda de acordo com Vitale, é tanto reunir estudos já existentes quanto elaborar contribuições sobre criação de novas regras para o ordenamento de infraestrutura aérea e subterrânea de telecomunicações usando a “boa engenharia”, topologias de projetos, utilização de tecnologia BIM (Building Information Modeling) em projetos de infraestrutura de telecomunicações e de Inteligência Artificial (IA) em sistemas de gestão, adequação e desenvolvimento de soluções técnicas de engenharia para a melhoria da infraestrutura de redes aéreas, visando o atendimento às necessidades do 5G/6G, bem como minimização de acidentes em postes, incluindo técnicas e treinamento em segurança e saúde no trabalho, entre outros.
A partir da sistematização desses estudos, a proposta é “publicar trabalhos em busca de soluções e disseminar as informações”. A infraestrutura crítica em telecomunicações, anunciou Vitale, será tema de workshop a se realizar em 18 de agosto próximo, na sede do SEESP.
Educação em engenharia
Bibbo se orgulha do fato de o sindicato ser único em contar com um Conselho Tecnológico voltado a construir propostas ao desenvolvimento, retomar o protagonismo e a valorização da engenharia.
Qualidade do ensino de engenharia e preocupação com queda do interesse de jovens pela profissão em pauta na 104ª reunião do Conselho Tecnológico, em junho último. Foto: Rita Casaro
E menciona uma das preocupações: a formação na área, tema ao qual o Comitê Assessor de Educação, coordenado por Cardoso, tem se debruçado. “O Conselho Tecnológico tem assumido certo protagonismo na educação em engenharia”, informa. Parte desse grupo de trabalho, segundo ele, escreveu inclusive as Novas Diretrizes Curriculares para Cursos de Engenharia, homologadas em 2019.
Atualmente está em andamento, como continua, o debate sobre tema preocupante: ensino a distância (EaD) na área. A questão entrou no radar do conselho com força a partir de decisão em maio último do Ministério da Educação de manter cursos de engenharia na categoria semipresencial – ao que o SEESP se opõe, por entender que isso prejudica a qualidade na formação.
Esse tema, bem como a preocupação com a queda no interesse dos estudantes pela área, considerada essencial para que o País alcance patamar de desenvolvimento, mereceu destaque na 104ª reunião do conselho, em 4 de junho último. O próximo encontro está marcado para 6 de agosto, quando terá início o processo para seleção dos agraciados com o prêmio Personalidade da Tecnologia.
Reconhecimento
Cerimônia de entrega do prêmio Personalidade da Tecnologia em 2024, na sede do sindicato, na Capital. Foto: Acervo SEESP
A escolha dos que serão laureados está entre as atribuições do Conselho Tecnológico do SEESP. A homenagem, concebida juntamente com o CT, já está em sua 39ª edição. Feita anualmente aos destaques do ano em suas áreas de atuação, por ocasião do Dia do Engenheiro – 11 de dezembro –, traz em seu bojo a concepção de desenvolvimento socialmente justo e de inserção tecnológica.
Assim, os nomes são escolhidos como reconhecimento por suas contribuições em prol da sociedade e do País. São cinco categorias de prêmios, definidas ano a ano pelo Conselho Tecnológico conforme as tendências tecnológicas e o contexto político e econômico de cada período, à exceção de “Valorização profissional”, que é fixa.
Muitos premiados ao longo dessa trajetória são engenheiros, mas o Conselho Tecnológico agraciou também profissionais de destaque em outras áreas, como o geógrafo Milton Santos, o sociólogo Herbert de Souza e o médico Adib Jatene.
Confira aqui a Galeria de Premiados nas 38 edições realizadas.
Próximos passos
Além da escolha dos agraciados com o prêmio Personalidade da Tecnologia, está no horizonte, segundo Cardoso, remodelação do conselho, de modo a “se adaptar aos novos tempos”. Assim, devem ganhar ainda mais destaque temas como inovação e sustentabilidade.
Zuffo revela: “Pretendemos atuar em parceria com instituições acadêmicas, órgãos governamentais e empresas para desenhar soluções de impacto em temas como Indústria 4.0, digitalização da produção, valorização da engenharia nacional, e atração de centros de P&D ao Brasil, em sintonia com programas como os da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] e BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social].”
Para os próximos meses, diz ainda, “pretendemos ampliar nossa atuação com a realização de seminários técnicos, a publicação de uma agenda de inovação industrial e a consolidação de um observatório de tecnologias emergentes. Acreditamos que a engenharia brasileira pode – e deve – ocupar papel central na reconstrução de uma base industrial forte, inclusiva e sustentável”.