
Por Nelson Valente
15/04/2025
A ocupação desorganizada de postes pelas operadoras de telecomunicações pode ser tecnicamente resolvida e a solução mais viável seria a adoção de uma rede neutra. Nessa configuração, um prestador de serviço independente seria responsável pela instalação de cabos de fibra óptica para atender a demandas das chamadas ISPs, provedores de serviços de telecomunicações.
A avaliação é do consultor Marcius Vitale, CEO da Vitale Consultoria eespecialista no tema. Além de organizar a ocupação da rede aérea das elétricas, a implantação evitaria acidentes recorrentes nos cabistas, profissionais de campo das ISPs responsáveis pela instalação das redes de fibra óptica.
Como Engenheiro de Telecomunicações e também de Segurança do Trabalho, Vitale alerta para o treinamento precário de alguns cabistas. Ao contrário dos eletricistas das distribuidoras e de seus parceiros, que são treinados para atuar em postes energizados ou não, os profissionais de telecomunicações nem sempre têm a habilitaçã0 necessária.
“As elétricas estão acostumadas a fazer a manutenção de suas redes,com procedimentos padronizados e, em alguns casos, com desligamento da energia”, lembra o consultor. Ele destaca que o atendimento as normas regulamentadoras NR 10 (para atividades em eletricidade) e NR 35 (para trabalhos em altura) são padrão no setor elétrico, mas não necessariamente de maior conhecimento da área de telecomunicações.
Com a rede neutra, ele acredita que a ativação e manobra de fibras ópticas poderia ser feita de maneira mais segura, com profissionais treinados no mesmo nível das concessionárias de energia.
Outra alternativa para resolver o problema ocupação dos postes seria o enterramento dos cabos de fibra óptica, que só subiriam para a rede aérea no momento de derivação para atender clientes residenciais.
“Nos dois casos, o problema é o custo, que poderia ser resolvido pelo compartilhamento da infraestrutura”, explica. “Em vez de vários cabos, teríamos um cabo, com fibras suficientes para atender a muitas ISPs”, completa.
O desafio de organizar o cabeamento de fibra óptica nos postes começa com o atendimento de normas da ABNT, que prevê a ativação de seis pontos de ocupação em 500 mm de extensão. Esse espaço é definido a partir de 10 cm abaixo do braço de iluminação dos postes.
Como um dos pontos já é de uso das concessionárias, sobram cinco deles para serem compartilhados, às vezes, por dezenas de operadoras de telecomunicações. Detalhe: parte deles também já é ocupado pelas grandes operadoras, restringindo ainda mais a manobra das ISPs.
Vitale estima que existam pelo menos 20 mil ISPs em operação no Brasil, o que amplifica o problema. Ele destaca que a liberação da ocupação atualmente é burocrática e restrita, o que exige uma solução diferenciada.
O uso de tecnologias de mapeamento, usando imagens de sites como Google Maps, combinadas com Inteligência artificial (IA) também ajudam na ocupação dos postes. Os dois recursos combinados podem indicar a melhor rota de instalação das redes ópticas aéreas, evitando locais congestionados.
Enquanto as duas agências dos setores procuram uma solução consensual – Anatel e Aneel estariam a ponto de chegar a uma normatização comum, depois de vários anos em discussão – Vitale chama a atenção para a atuação das prefeituras.
“Temos visto vários decretos municipais determinando como deve ser o compartilhamento dos postes”, alerta. “Nem sempre são normativas adequadas, mas em comum elas têm acionado as elétricas como responsável pela gestão dos postes”, finaliza