Matéria de minha autoria, publicada na Revista RTI – março de 2020 – páginas 52, 54 e 55.
Um fato que vem sendo deixado de lado é a liberação de dutos para o compartilhamento das redes subterrâneas de telecomunicações nas grandes cidades brasileiras.
Com a modernização das redes, com milhares de cabos disputando espaços limitados nos postes, os antigos cabos metálicos de até 2400 pares, continuam ocupando preciosos espaços no subsolo congestionado.
Para a remoção desses cabos é necessário um bom planejamento de manutenção. Os trabalhos são de grande complexidade e carecem de mão de obra especializada e bem remunerada, para assegurar que os cabos subterrâneos que irão permanecer não sejam danificados.
Como os postes estão em situação caótica, remanejamentos das redes aéreas para o subterrâneo são cada vez mais necessários, o que tem gerado a confecção de projetos de enterramento de centenas de dutos em valas abertas, não recomendado tecnicamente.
A justificativa cabível para essa afirmação é de fácil compreensão. Como o subsolo urbano em muitos casos é ocupado de forma indiscriminada por diversos segmentos como água, gás, energia, esgoto, as valas para enterramento dos dutos de telecomunicações procuram os caminhos livres para serem instalados, ocupando os últimos espaços disponíveis do subterrâneo.
Desta forma, o que já está ruim acaba ficando pior com um subsolo totalmente congestionado por um emaranhado de dutos das diversas concessionárias (água, energia, gás, sinalização semafórica). As implantações de novos projetos e mesmo os serviços de manutenção são bastante prejudicados, gerando elevados gastos, para arrumação da desordem.
Uma forma de otimização dos limitados espaços do subsolo urbano é a adoção de ações proativas, com a utilização de microtecnologia e a liberação dos dutos para uso compartilhado por diversos ocupantes.
Conforme citado, os trabalhos de retirada dos cabos inservíveis do subterrâneo e a arrumação das caixas subterrâneas são elevados, mas podem trazer para as operadoras detentoras desses insumos ganhos consideráveis com a comercialização do cobre a ser retirado, assim como com o aluguel dos dutos vagos para terceiros.
Outro fato a ser considerados é que ruas deixam de ser abertas para o enterramento de dutos, em muitos casos, impedindo que futuras redes sejam implantadas e mantidas de forma correta.
Para que estas ações sejam implementadas é necessária uma gestão efetiva e competente. Essa seara não é para principiantes e carece que equipes com notórios conhecimentos em obras de telecom sejam contratadas.
Afim de minimizarmos os problemas detectados na infraestrutura urbana, provocados pela execução de obras com valas abertas, uma nova opção técnica está sendo introduzido no Brasil.
Trata-se da microtecnologia, composta por microdutos e microcabos, uma solução que auxilia na despoluição do subsolo urbano, liberando espaço e incrementando uma evolução tecnológica, modelo já utilizado em larga escala em países desenvolvidos.
Para que o novo sistema tenha êxito, estamos trabalhando na adequação técnica da solução, para atendimento das condições físicas do nosso subsolo urbano e do treinamento e certificação da mão de obra envolvida.
Pela tipicidade da pavimentação asfáltica utilizadas no país, muitas obras são realizadas com a adição da camada asfáltica sobre paralelepípedos, o que provoca uma abertura de valas com dimensões acima do previsto. Essa abertura da capa asfáltica gera um sobrepreço dos projetos, pois é exigido que a via seja integralmente recomposta.
Os citados microdutos são implantados em microvalas, com dimensões diminutas, cerca de 20 mm de largura por 400 mm de profundidade. A pequena abertura da vala é recomposta por asfalto frio, que não ocasiona recalque da cobertura, assegurando que a camada asfáltica fique sem depressões e/ou calosidades.
Aqui cabe uma observação: não confundir microvala com minivala
Minivala
Para as minivalas, o rompimento da capa asfáltica utiliza um equipamento dotado de discos com bits de metal duro. Quando da execução da obra, a abertura muitas vezes pode sofrer uma desagregação do pavimento na superfície da minivala escavada, o que acaba gerando uma abertura maior que a prevista.
Outro detalhe a ser considerado é que os tais “Bits de Metal Duro” não conseguem romper concreto armado, paralelepípedos e até mesmo algum outro material resistente existente no trajeto.
Microvala
As microvalas possuem características bastante diferenciadas das minivalas, quanto a sua abertura. Utilizam equipamentos dotados de discos de corte com seguimentos de diamante, que podem abrir qualquer tipo de material existente no trecho tais como: paralelepípedos, trilhos metálicos, concreto armado, outros materiais.
Quando da abertura das valas, o citado disco de diamante é refrigerado com água, minimizando a quantidade de material a ser descartado, que é eliminado junto com a água de lavagem e limpeza da obra, cerca de 8 litros de material por metro de microvala, com a total eliminação de poeira.
Assegurando uma largura de vala uniforme, com 20mm de largura, sem risco de desagregação do pavimento da parte superior da microvala, os microdutos são instalados num ambiente seguro para a integridade e proteção mecânica.
A reconstituição da capa asfáltica da microvala, garante que não haverá recalque assegurando que a via será preservada.
O resultado final da obra é promissor, uma vez que resulta em significativa economia, pela não necessidade de recomposição asfáltica da via, comparativamente com os métodos tradicionais de obras utilizando dutos e microdutos.
Quem conhece infraestrutura de redes de telecomunicações urbana sabe como proceder para que os projetos sejam coroados de sucesso.